Débora Corn é autora dos livros: Joni Depi me chamou pra ir ao samba e Pinturas para Claude - Editora Corpos de Portugal.
sábado, 15 de março de 2014
Residencial sem café e janta não se compra na cidade
Que odisseias eu tenho por cima passado; quem inventou a burocracia por certo jamais foi amado.
O beijaria agora.
O correio em greve, o sedex que custa cinquenta pila pra mandar uma folha e não é o primeiro documento a se enviar, declaração:
– Eu declaro, eu ofício. Mude o dia. Por ocasião disso, daquilo. Prezado, senhor, reverendíssimo, caro; caro é quanto custa e não estou nem contabilizando meu tempo.
Ele é esquisito e o beijaria nesse instante, lhe falta beleza, no entanto é análogo a um dos homens mais lindos e cativantes que já passei horas ao lado. Como pode? Não sei. Os mesmos olhos, nariz, pescoço, o conjunto.
Pela manhã o sol pronunciou:
– Olá como vai? Agora a chuva escorre na calçada.
Como não podia deixar de ser assim: Hoje também pensei nele, duas vezes e nem são seis horas. Ainda no meio da burocracia criada pelo mal-amado, – imaginei. Não falo do esdrúxulo que é idêntico ao Deus grego, nem da paixão do passado de olhos verdes e cabelo comprido que encontrei na esquina. Reporto a meu amorzinho que me ama (meu amorzinho que eu amo).
– Ai, como eu sofro! Uns sofrem por amor, vulneráveis, choram na janela fumando seu cigarro, eu padeço com a burocracia.
Débora Corn
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