sábado, 20 de agosto de 2011

Walk Away number 6



Não pude acreditar em que o homem de óculos azuis quase pretos me disse dentro da Maria Fumaça ontem lá pelas oito atravessando o bairro central. O homem meu noivo contou-me que seu cavalo de pernas mais longas não estaria a minha disposição quando meus olhos não quisessem mais encarar as pessoas saídas do imaginário flutuante de sua intrigante cabeça.
Homens são uma esquisitice quando querem. Falam coisas.
Meu vestido vermelho, novo de coleção cara, amassado por causa dos bancos tortos da Maria Fumaça, furou bem na barrinha num prego da poltrona. Nem por isso aquilo que meu noivo me dissera me magoou menos. O que me incomodou não foi a circunstância, mas sim a maneira que ele me alertou sobre o cavalo. Sem nenhum cuidado com meu frágil jeito foi dizendo sem consideração nenhuma com meus olhos, que ele, meu noivo não estaria disposto a buscar o cavalo em minha casa na manhã seguinte. Com tanta reclamação sobre minha chácara ser deslocada, próxima ao retorno das Fileiras, me deu um ódio que queima devagar o corpo, um ódio que dói um pouco os olhos, por quererem chorar. Meu noivo sem tato e audição, foi dizendo tudo sem pensar, ele que não me venha contar as baboseiras sobre seu tio que fuma três cigarros pela manhã, dois após o almoço e antes das sete somente um. Essas bestas cantigas velhas.
Hoje acordei com peso nos olhos feridos. Tinha reuniões com os maridos das mulheres do crochê e cheguei à casa de Verônica com os pés doendo e já tinha atrasado duas horas e dez minutos.
Almocei com Verônica a comida que meu noivo mais gosta. Não liguei para ele, aquele bastardo idiota. Deixei Verônica e fui à aula de violão em casa de Carlos.
Meu noivo que tem uma bochecha lisa e vermelha não havia me ligado até quando cheguei à casa do Cascão para as combinações sobre o piquenique em Vila Nova.
O Bastardo me ligou após a vinda de Ana Luzia à minha chácara. Ao aparelho me falou besteiras em chinês, alemão e russo.
Não falei muito, a mágoa ainda na garganta e o bastardo repetindo coisas. Ele não quis contar as notícias de Sapetão o bairro vizinho, onde ele tinha passado à tarde. Meu noivo tem umas manias que me enlouquecem. Essa de não contar quando eu pergunto interessada sobre os bairros próximos é uma.
Ele saiu de Sapetão as três para as nove. Sei exatamente a hora porque o bastardo enviou-me uma mensagem.
As estradas para o Centro novo não são as melhores. Chovia muito quando meu noivo saiu. Ele dirige mal quando garoa, imagine quando chove forte. Meu noivo perdeu o controle do veículo na estrada dos Farofeiros e caiu na ribanceira quatro nove da virada leste. O bastardo morreu com os sapatos novos de veludo polido.


Walk Away number 6
Débora Corn

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Minha Namorada



Meu poeta eu hoje estou contente
Todo mundo de repente ficou lindo
Ficou lindo de morrer
Eu hoje estou me rindo
Nem eu mesma sei de que
Porque eu recebi
Uma cartinhazinha de você

Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ter
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque

E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois


Minha Namorada
Vinicius de Moraes / Carlos Lyra