terça-feira, 20 de outubro de 2015

O dia avança na asa do pássaro



Não há ipês em Londrina
E meu afeto os quer fotografar
As árvores são virtuosas por lá
Mas as pau-d’arco e as violáceas caíram

O dia avança na asa do pássaro
Em minha cidade eles resistem no alto
E forram o chão de cores
A neblina ablui cada ipeúva

Débora Corn

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

10

SETEMBRO

O ipê dançando num giro romântico
Caiu no asfalto
Não sentiu dor nem gritou
Amarelo repousou na rua
Na triste quarta de calor
Não era primavera visto que o ipê floresce no inverno
Ele aviva a garoa

Desabou num rodopio poético
E quem passava não aplaudiu
Tampouco olhou seu exagero de beleza
Luz na praça aclarava o balé
Mais um girou lentamente até pousar
O restante sacudiu suavemente
A espera do minuto exato


Débora Corn
Poema pág 10 de Pinturas para Claude
Editora Corpos

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Everything that kills me



Fica tudo entre a frieza e a simetria
Montanhas, ruas: bicicletas e lágrima
Entre Dublin e o Rio há apenas um passo
Um voo de asa-delta

Um amor de braços abertos atrás do Cristo Redentor
Que em seguida se arremessa da Pedra da Gávea
Penso entre melancolia e júbilo
Estou em meio ao azul e a altura

O sorriso do transeunte aquece meu olho cansado da maré noturna
As luzes no calçadão calam as estrelas
Um sentimento alheio enquanto os sambistas atravessam a via
Homens jogam vôlei, o mar avança


Débora Corn

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Bem-te-vi



Bem-te-vi no olhar do sabiá
Guardei tua chegada no segundo que não ecoa
Te vi dentro do medo que me esvazia
Bem-te-vis à borda do riacho que o vento balanceia

Vi-te na toada do canário sonolento
Na claridade bruxuleante dos efeitos
Em luminárias coloridas em frente à morada do palhaço

Sabia bem-te-vi cantiga de onda
Vi o trovar do basalto
Bem-me-viu alagar o olho de pôr-do-sol


Débora Corn

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Mais um mês distante do Willy

Mais um mês distante do Willy

E lagrimo a ler José Luís Peixoto que grafou aquarelas à cidade do Porto cravada dentro do meu olho existindo como pupila

Escuto os fogos do dia de São João e agrada-me o rio

Avisto um leopardo a perambular pelo calçadão e é só uma tatuagem na perna de alguém como no texto de Caio F

O melhor carro nacional passa do meu lado e acho coisa pouca

A mulher magra até elegante fuma seu cigarro, anda com passinhos de desfile, para em frente ao mercado e bate a cinza na lixeira – observa o céu cinza; trago um pensamento: quiçá o momento equivalha para ela como o mais vivo do dia

O sino da Catedral badala marcando dezoito horas e ainda são dezessete horas e cinquenta e seis minutos


O cheiro da pipoca doce penetra meu olhar salgado, uma saudade dele quase improvável aquece-me o paladar 


Débora Corn