sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Para Manoel de Barros


Um céu bateu em mim
Chovi dantes
E os pássaros se molham de luz

É Poesia o poeta
No horizonte ele nuvem, voa

Para enxergar o mar basta um assobio
Da minha infância guardada na caixa de música
Gira o pneu balanço criança

Darei a volta por trás de casa
Pra alumiar o poema de um hortelã


Débora Corn

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Dia do poeta com Fernando Pessoa

Hoje é dia do poeta; creio que minha função mais imensa; penso que preciso ser todas as outras coisas para sê-lo. E se consigo? Não sei. Homenageio meu maior mestre Fernando Pessoa, quem tomo a liberdade de chamar somente Fernando por sentar comigo na minha cadeira favorita em dias de sol e de chuva igualmente.
Lá fora uma imensidão de rosas; a cor no céu: É poesia, muita! Olha como o pássaro preso na gaiola foi posto na janela e canta ainda assim, é poema amarelo de canarinho.
A poesia de Fernando me abordou como uma enxurrada e um rio calmo de mesmo modo. Falar disso é discorrer sobre inúmeras coisas, tudo verdadeiramente imenso na imensidão de ser imenso.
O Mar. Conheci tanto sobre o mar com Fernando: a profundidade da alma portuguesa sua pele cheia de bela melancolia, desassossego, fado.
Tanto já se espiculou sobre ele e os poetas que ele criou, entretanto a andar por Lisboa tudo me pareceu mais simples, mais calmo e profundo. Da minha janela portuguesa a paz que eu merecia.
A subir para o Bairro-Alto o encontro (inusitado) com sua estátua. Já havia tirado fotos Portugal a fora com tudo que fazia referência a ele, ah mas, ali foi como encontrar o Mestre de verdade, até disse algumas palavras em seu ouvido, que terminaram em Obrigada. Com olhos venturosos tive que sair do lado dele, pois havia uma família de turistas húngaros que queriam também tirar suas fotos.
Das pessoas que ele inventou Caeiro é... Não achei palavras e talvez nunca as encontre; sinto cada verso. O Guardador de Rebanhos foi o primeiro livro de Fernando que li e continuo a reler como um mantra, cada vez a alma experimenta diferente. Caeiro me faz perceber distinta a existência. Põe de cabeça para baixo meus conceitos, e até medos.
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica... Assim é e assim seja ...
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"
Poderia falar de Ode Marítima, Poemas Dramáticos, Mar Português, Livro do Desassossego, Tabacaria, Poema em Linha Reta, Ricardo Reis, (e tanto mais). Sua obra é vento no meu coração, é amor, alma, melancolia, descoberta, é mar imenso mar.
Débora Corn

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Heitor Villa-Lobos me arranja sonhar



Tanto pôr-do-sol na reflexão
Quão acalento: música
Villa-Lobos meu afeto!

Olhos replenos de mar
No inflamar-se do violino
Naufragam barcos no cais

Solidão de onde vens?
O que é para si o amor?
E do que ele te lembra?

Uma pausa: noite
A rever canções
Envolvo-me

Cessa. Enxergue as notas redondilham
Cellos e cellos
Garganta peregrina pelo sopro

Navegar: sentido
Villa-Lobos meu amor
Sentarei para escutar-te

Meu bem, Villa-Lobos
A seus sonhos veemência
O mar eleva-se no meu alento


 Débora Corn





quarta-feira, 28 de maio de 2014

Je t’aime




Tem um mundo magnífico dentro da camisa
Listrada em vermelho e branco
Sorriso grande; derrama carinho, grita:
Acorda-me cedo pra eu beijar-te

Meu coração samba canções para o continente dele
Olhos replenos de versos cativantes
Fazem-me peregrinar a noite por um verbo

(Hei amor, já sinto sua falta!).
Me encanta de flores
Enche-me de dia

Oh amor
Expressões pelas gentis letras  
Anota-me bilhetes na cabeceira
Na geladeira e na cabeça
E nos meus sonhos ele voa

A dançar uma musica francesa à tarde
Sussurrou que não pretendia negociar
Devo confessar que achei bom
Cantei um refrão

E ele mencionou ser feliz




 Débora Corn

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O maravilhoso mundo das aulas teatrais

Neste dia do trabalho estive a pensar novamente no ofício de ser atriz do qual tenho em minh’alma, todavia que já é transformada em meu pensamento, pois nesse momento de meu querer isso vem embalar a base de minha literatura e música.
O teatro é em minha vida um transformador, um furacão de belezas! Dentre elas muitos amigos legítimos. (amigos que têm todo meu amor).
Acredito no teatro em sua essência e ele se dá nessa imensidão nas aulas: ali está toda a gratidão, a amizade, o companheirismo, o amor por este momento de encontro, as descobertas não de um ofício, mas de você mesmo. Um reconhecimento do que você pode fazer, do que você pode ser, asas a imaginação, tudo é possível, sem limites, sem limites...
Vamos navegantes! Meus alunos sabem que podem navegar; e podem fazer muito mais. Podem ser fiéis a sua verdade, podem gostar do que ninguém gosta, podem ser esquisitos, fracos, acima de tudo contar sua fraqueza na roda para a turma e porque se quis, pois se sentiu a vontade, se sentiu um pouquinho que seja livre.
Amo o teatro por tudo que modificou no meu peito, pela essência que não perdi e que encontro SIM somente nas aulas que tive lá no começo onde encontrei amigos já mencionados e hoje nas aulas que tenho o prazer de administrar: a clareza dos olhares, da constante descoberta de si... Isso é teatro! Não as baboseiras que vem depois (isso é mera bobagem!).
Débora Corn

terça-feira, 22 de abril de 2014

Ainda não havia Caetano para mim

Posso ainda ouvir o sacudir das árvores, o vento forte. O nome dele ficou na minha boca e escrito na areia por vários verões. Meu primeiro amor;
– Como é bom ter-te ternura. Pensava. Lembro-me dele com muita intensidade que não sei dizer o que é.
Os cabelos balançavam com a brisa; nasceu um tempo novo em mim no momento que o vi. Conheci-o na sorveteria. Todas já haviam comentado da beleza do moço.
– Com você ele fala! Comentou alguém delas que era apaixonada por ele.
E era simples se apaixonar: olhos verdes cristalinos de navegar, cílios que faziam cócegas no meu nariz, a cor do sol na pele.
Andávamos a noite na praia deserta algumas luzes pra iluminar nossos sonhos, a camiseta dele esquentava minhas costas, o mar banhava os pés suavemente.
Ainda não havia Caetano para mim, todavia existia ele.
Ao levantar eu observava o mar da sacada, o som das ondas semelhava música, o coração o solicitava. Percebia meu peito bater acelerado, achava que era assim mesmo e até hoje creio que é de tal modo que tem que ser.
O primeiro beijo foi aquele descrito no conto de fadas da minha cabeça sonhadora: com as estrelas cintilando, o sal, à noite já bem chegada, o olhar bem aceso, a boca bem boca, ele bem o que ele era eu a ser eu e como eu gostava de constituir eu ao lado dele.
Timidez foi uma página inteira escrita à mão no meu primeiro romance, porém tudo se ajeitava na maresia lúdica da qual compartilhávamos.
Tenho-o no meu pensar tão serenamente, o amando no tempo que passou, a amar a paixão de acordes leves que tive que tivemos. Com saudade talvez de um olhar inocente que ele trazia toda vez. Ele será sempre meu primeiro amor, com infinita poesia, sutileza, com tanto mar...
Débora Corn

sábado, 19 de abril de 2014

Caetanear na sexta-feira santa

No reencontro de hoje permanecemos a nos olhar por um pouco menos de uma hora ou quem sabe um muito mais de trinta minutos: houve sorrisos, goles no vinho, pétalas. Desejar-te desde sempre. Não continha palavras, existia um diálogo profundo.
Coisa linda. Há quatro ou três páscoas nos conhecemos, ele foi anunciado na sexta e apareceu no domingo; minha páscoa havia nitidamente ressuscitado!
Eu tinha a toalha na cabeça, saía do banho, o dia ainda novo, as roupas no varal nublavam a visão para o outro lado, tirei uma peça para pendurar a toalha e ele estava ali no clarear do oposto como quem esperou naquele lugar a vida toda e um plimplim se realizou, um farol na tarde que chegava.
Sem esforço a conversa atravessou a noite e o luar nos cobria de estrelas.
Ele envolvia-se com o cobertor, colocava-o na cabeça e ficava ainda mais encantador. Os olhos eram carregados de emoções uma alegria no meio das flores.
Num dia qualquer tudo expirou.
Desprezei-o. Entretanto ele trazia uma promessa de desejar-me desde sempre. E com atitude ele sincronizou um eterno querer no meu peito. Talvez até uma ideia enlouquecida; conquistou meu respeito, tem meu olhar, realidade de luar, de pétala.
Débora Corn

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Alfama não cheira a fado

Alfama
Amália Rodrigues
Quando Lisboa anoitece
como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece
É numa água-furtada
No espaço roubado à mágoa
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes de água
Quatro paredes de pranto
Quatro muros de ansiedade
Que à noite fazem o canto
Que se acende na cidade
Fechada em seu desencanto
Alfama cheira a saudade
Alfama não cheira a fado
Cheira a povo, a solidão,
Cheira a silêncio magoado
Sabe a tristeza com pão
Alfama não cheira a fado
Mas não tem outra canção.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Joni Depi me chamou pra ir ao samba Portugal - Performance - Ensaio

Não me distrairei de ti Portugal

Ê coisa boa. Um poema meu recente chamado: Não me distrairei de ti Portugal; entrou para a segunda antologia da Editora Corpos. Editora também do meu livro: Joni Depi me chamou pra ir ao samba A antologia já se encontra à venda nos seguintes links:
Livro: http://www.poesiafaclube.com/store/varios-autores-2-antologia-do-poesia-fa-clube
Ebook: http://www.poesiafaclube.com/store/2-antologia-do-poesia-fa-clube-varios-autores O livro também está à venda na loja no facebook.
https://www.facebook.com/poesiafaclube?sk=app_519984624691308&app_data=

sábado, 15 de março de 2014

Residencial sem café e janta não se compra na cidade

Que odisseias eu tenho por cima passado; quem inventou a burocracia por certo jamais foi amado. O beijaria agora. O correio em greve, o sedex que custa cinquenta pila pra mandar uma folha e não é o primeiro documento a se enviar, declaração: – Eu declaro, eu ofício. Mude o dia. Por ocasião disso, daquilo. Prezado, senhor, reverendíssimo, caro; caro é quanto custa e não estou nem contabilizando meu tempo. Ele é esquisito e o beijaria nesse instante, lhe falta beleza, no entanto é análogo a um dos homens mais lindos e cativantes que já passei horas ao lado. Como pode? Não sei. Os mesmos olhos, nariz, pescoço, o conjunto. Pela manhã o sol pronunciou: – Olá como vai? Agora a chuva escorre na calçada. Como não podia deixar de ser assim: Hoje também pensei nele, duas vezes e nem são seis horas. Ainda no meio da burocracia criada pelo mal-amado, – imaginei. Não falo do esdrúxulo que é idêntico ao Deus grego, nem da paixão do passado de olhos verdes e cabelo comprido que encontrei na esquina. Reporto a meu amorzinho que me ama (meu amorzinho que eu amo). – Ai, como eu sofro! Uns sofrem por amor, vulneráveis, choram na janela fumando seu cigarro, eu padeço com a burocracia. Débora Corn

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Para ela

– Tira ele do bosque, vai que uma cobra o pica. Disse a mulher para a amiga com um minúsculo cachorro e sorriu amplamente para ela que saía da biblioteca. Ela saiu da casa cheia de livros e realizou que o dia ainda estava radiante com nuvens rosa cor. – Ela adora essas nuvenzinhas. O vestido dela arregalou os olhos dos cidadãos o dia todo; tinha até gente espiando pelas esquinas e atrás dos balcões. Ela viu no espelho do banheiro da biblioteca que realmente estava bela, percebeu também que a vestimenta estava mais molhada do que pensara ela antes. Úmido de chuva. Não chovia há semanas; pensava ela que morava no Peru, por ocasião de um amigo peruano ter lhe contado que no Peru não derrama água. À tarde depois de visitar a Itália em pensamento, nuvens cinza escuro reinam na cidade, pingo a pingo a chuva engrossa, ela caminha pela Roma imaginária sendo lavada, uma felicidade! Vinhos romãs. Ela passa por um casal parado na marquise, sorri num convite para serem regados. Ela saiu de casa cantando uma música que Bethânia canta. Encontrou Seu Antônio na esquina que sorriu e falou coisas boas. O trem saiu na hora marcada; as flores do verão pela janela são líricas que balançam. Borboletas na saia da vitrine, a música que lembra Ouro Preto tocando na loja. O corpo balanceia. Apitos de qualquer pássaro na vendinha. Toda minha casa de campo na vendinha. – Ai amor, toda nossa casa na vendinha. E da varanda vê-se a chuva que volta toda tardinha pra nos banhar.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Caríssimos; é com muita alegria no meu coração que digo que meu livro já se encontra à venda no site da Editora Corpos (poesiafaclube): Livro: http://www.poesiafaclube.com/store/debora-corn-joni-depi-me-chamou-pra-ir-ao-samba Ebook: http://www.poesiafaclube.com/store/joni-depi-me-chamou-pra-ir-ao-samba-de-debora-corn