segunda-feira, 30 de maio de 2011

É proibido ler Machado de Assis


Estêvão ainda ficou algum tempo encostado à cerca, na esperança de que ela olhasse ou dirigisse os passos para aquele lado; ela porém, passou indiferente, como se nem da existência dele soubera. Estêvão retirou-se dali cabisbaixo e triste, batido de contrários sentimentos, cheio de uma tristeza e de uma alegria que mal se combinavam, e por cima de tudo isso o eco vago e surdo desta interrogação:

- Entro num drama ou saio de uma comédia?


Machado de Assis
A Mão e a Luva




Deveria ser proibido ler Machado de Assis.
Sim! Obrigação moral de todas as livrarias
Terem uma placa ostentando o aviso:
De Assis, Machado, Proibido! Stop!
Não se aproxime, dê a volta pela esquerda.
E nas bibliotecas uma sala de máxima
Proteção para o autor de Dom Casmurro.

Assim, decerto, despertaríamos!
Pois na escola nos obrigam a ler
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Como se nas páginas estivessem
Impressas as mais chatas palavras.

Se a proibição fosse decretada
Desde nossa vida escolar
Nossos olhos não aguentariam
Viver com tanta curiosidade
E beberíamos as letras machadianas proibidamente
Enfurnados num moderno porão
De frases quase apagadas, mas ainda acesas
Por um toco de vela no castiçal



uma pequena homenagem ao grande mestre
É proibido ler Machado de Assis
Débora Corn

domingo, 22 de maio de 2011

Doutor quanto tempo eu ainda tenho de vida? - Alan- Ruivo- Existe


A penúltima peça que escrevi se chama: Doutor quanto tempo eu ainda tenho de vida? Breve em um teatro perto de você. No final do relato confira a sinopse. Mas não falarei tanto da peça hoje, mas sim falarei de um dos personagens, O Alan. Na verdade, também não é sobre o personagem em si. É sobre o que então? Você, leitor, poderia me perguntar, e eu respondo é sobre o personagem que eu inventei ruivo, sim ruivo, e que nessa semana, talvez na passada, tive os olhos estalados, por ver que o cara, a Persona Alan, existe. E eu nunca o tinha visto mais Alan. Quando eu escrevi a peça, lógico eu pintei na minha mente a cor da pele, o jeito de falar, andar, olhar... A presença desse personagem, a força, as cores que ele usaria o charme e a perfeição desse homem para a mulher que o ama. Pois então, estava eu numa aula qualquer, em um dia com a turma cheia e divertida, cheguei atrasada, cumprimentei todos os meus amigos e tinha um casal lá que eu não conhecia. Apresentaram-me ao casal, até aí tudo beleza, o que sucedeu minha gente brasileira e do mundo é que comecei a conversar com eles e de subido meus olhos pararam de piscar tão rápido por alguns minutos quando comecei a reparar que o cara era a encarnação viva, vivinha, do personagem que eu inventei. Tudo, tudo, tudo... O jeito de tomar suco, o estilo de se referir as pessoas, a gentileza com a mulher, a delicadeza não demasiada, tudo era o Alan escrito, nesse caso, escrito por mim e a mulher dele ainda completou o personagem dizendo o quanto ele era sincero e quanto ela o amava. (Não sei nem porque a mulher, que nem me conhecia me contou tudo isso, mas eu estava adorando e ouvindo atentamente tudo o que ela falava sobre o meu personagem vivo. (Pausa para uma risada aqui). E ela também como a minha personagem, Helen (que é loucamente tomada de uma paixão pelo Alan na peça) na vida real, a mulher do Alan de verdade, também é só coração para o Alan dela. Eu estava incrivelmente chocada por encontrar meu personagem andando vivo por aí, e o mais maluco, louco mesmo, vocês ainda não sabem... Quando o homem abriu a boca para dizer o nome dele... Eu quase me engasguei com a água que estava tocando minha língua e toda minha boca... Alan, ele disse, se apresentando. O nome do cara é Alan. Minha nossa, eu vou fazer outra pausa. Pronto! Vamos retomar, não é todo dia que se vê isso, não é em qualquer esquina que se assiste seu personagem saltar das páginas escritas, para uma aula qualquer no meio da semana. Ahhhh e que coisa mais interessante! E a mulher do cara? Vocês podem me perguntar, qual o nome dela? Helen? Não, aí seria um exagero do universo, colocar o meu personagem casado com a Helen (minha personagem). Nesse fato, eu teria que procurar uma câmera, porque aí ia ser uma pegadinha do malandro, do faustão, ou qualquer uma dessas pegadinhas todas.
Ah, e você ainda poderia perguntar: O Alan da realidade é ruivo? Pois é, meus queridos, ele não era, mas também quando você for ver a peça, você entenderá que ele poderia na realidade, em realidade, ser ruivo ou não. Na peça todos os personagens usam perucas é uma temática de encenação que eu arquitetei quando escrevi. Descubra tudo isso e muito mais em Doutor quanto tempo eu tenho de vida? Breve impresso e num teatro aí do seu ladinho.

Débora Corn


Sinopse:

Helen mais uma vez se encontra só. Abandonada por Alan, um homem perfeito... Será invenção ou verdade toda a docilidade desse homem? É nesse contexto que a ajuda do Doutor se faz necessária. Com um humor nonsense os personagens estão sempre digladiando com a emoção e a razão. No decorrer da história não sabemos mais quem é razão e quem é emoção. A peça possui pontos em comum com o teatro do absurdo, mas parte para outras estéticas, a peça também critica sutilmente o modo com que a sociedade quer que todos sejam normais. Normais com o mesmo rótulo grudado na cintura, sem opinião, sem sonhos.

Texto: Débora Corn

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A cidade que inventei com o mundo dentro



Inventei sorrisos, flores.
Uma cidade de copos, talheres, inventada.
Um melodrama, uma comédia
Tudo eu inventei.

Um abraço é só o que te peço.
Com o mundo dentro, um abraço!

Com amigos bem colocados
No tabuleiro, vou dançar com a noite.
Rascunhos seus pela vila
A reinventar vinhos, pratos...

Fotos no celular, na parede
Te reinventam no bar, na praça
E invento histórias como um gibi
Onde os amigos pensam ou riem.

Na noite que já se entregou ao dia
Os bufões querem cigarro!
Se arremessam e gritam: Um cigarro!
Eu no meu jogo de xadrez

Peço ao rei amigo
Que meus inventos deem lucro.
Minha imaginação não pede pouso
Latindo pra algo ela segue acordada.

Motos rodam na minha cabeça
Como um globo da morte, aquele de circo.
Não me preocupo com as motos
E sim com o globo

Que a qualquer momento
Pode se desprender do chão
E varrer a cidade de talheres, garfos
A cidade que inventei com o mundo dentro do seu abraço.


A cidade que inventei com o mundo dentro
Débora Corn

domingo, 15 de maio de 2011

Gustavo Adolfo Bécquer - Rima IV, No digáis que agotado su tesoro

No digáis que agotado su tesoro,
De asuntos falta, enmudeció la lira:
Podrá no haber poetas; pero siempre
Habrá poesía.

Mientras las ondas de la luz al beso
Palpiten encendidas;
Mientras el sol las desgarradas nubes
De fuego y oro vista;

Mientras el aire en su regazo lleve
Perfumes y armonías,
Mientras haya en el mundo primavera,
¡Habrá poesía!

Mientras la ciencia a descubrir no alcance
Las fuentes de la vida,
Y en el mar o en el cielo haya un abismo
Que al cálculo resista;

Mientras la humanidad siempre avanzando
No sepa a dó camina;
Mientras haya un misterio para el hombre,
¡Habrá poesía!

Mientras sintamos que se alegra el alma
Sin que los labios rían;
Mientras se llora sin que el llanto acuda
A nublar la pupila;

Mientras el corazón y la cabeza
Batallando prosigan;
Mientras haya esperanzas y recuerdos,
¡Habrá poesía!

Mientras haya unos ojos que reflejen
Los ojos que los miran;
Mientras responda el labio suspirando
Al labio que suspira;

Mientras sentirse puedan en un beso
Dos almas confundidas;
Mientras exista una mujer hermosa,
¡Habrá poesía!





Gustavo Adolfo Bécquer

sábado, 14 de maio de 2011

Francisco Hernándes

Fantasma

Amo las líneas nebulosas de tu cara,
tu voz que no recuerdo,
tu racimo de aromas olvidados.
Amo tus pasos que a nadie te conducen
y el sótano que pueblas con mi ausencia.
Amo entrañablemente tu carne de fantasma.



Francisco Hernándes

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dead Poets Society




Mr. Keating: In my class, you will learn to think for yourselves again. You will learn to savor words and languages. No matter what anybody tells you, words and ideas can change the world. I see that look in Mr Pitts' eyes like 19th century literature has nothing to do with going to business school or medical school, right? Maybe. You may agree and think yes, we should study our Mr. Pritcher and learn our rhyme and meter and go quietly about the business of achieving other ambitions. Well, I have a secret for you. Huddle Up...Huddle UP! We don't read and write poetry because it's cute. We read and write poetry because we are members of the human race. And the human race is filled with passion. Medicine, law, business these are all noble pursuits necessary to sustain life. But poetry, beauty, romance, and love; these are what we stay alive for. To quote from Whitman "Oh me, Oh life of the question of these recurring. of the endless trains of the faithless of cities filled with the foolish. What good amid these? Oh me, Oh life." "Answer...that you are here and life exists....You are here. Life exists, and identity. The powerful play goes on and you may contribute a verse." The powerful play goes on and you may contribute a verse. What will your verse be?

Dead Poets Society
written by Tom Schulman

segunda-feira, 2 de maio de 2011

venha navegar com o teatro ou avise seu vizinho



venha navegar com o teatro ou avise seu vizinho

Já começouuu!

Novas Turmas de teatro no Sesc Portão, na segunda das 18h às 21h, na quarta das 15h às 18h e no sábado das 14h às 17h. Professora e Diretora: Débora Corn.
Teatro não é terapia, mas sim pode mudar a vida social das pessoas e motivar os talentos de cada um.

Venha vc também navegar com a gente!

fotos das aulas no Sesc Esquina
http://www.facebook.com/media/set/fbx/?set=a.127298247345415.29649.100001957213345

Pelo amor de alguma coisa não há resposta para todas as infelizes perguntas




Mais uma vez um soluço
Pergunta pra noite: Porque isso aconteceu?
Não quero cuspir a saliva seca.
Com o cigarro pendurado nos lábios
Não queria que a primeira poesia pra você fosse assim

Uma respiração funda
E eu não queria...
Queria que ela fosse leve como pluma
Bonita como um dia no passado
Colorida como as flores

Não gosto de chorar por nada
E não gosto de sentimentalizar as tristezas
Eu aspirava pra você uma primeira poesia
Cheia de encanto e intensos pedacinhos de felicidade

Vá repensar o que quiser
Ultimamente tenho refletido com o rádio ligado
Porque as pessoas refletem tanto?
Que confusões absurdas essas criaturas humanas tanto têm?

Relações falidas são o mal da semana, do mês, do dia de ontem
Faça um bolo, colha uma rosa meu amigo, hoje o dia não foi legal
Ouça bem a canção do vizinho, o vento está vindo do norte
Mas uma vez soluçando quero saber, por que isso vai indo, vai caminhando

E meu sexto sentido anda enguiçado, não tá trabalhando
Certamente parou de responder, como os santos para quem rezamos
Anote qualquer coisa, qualquer coisa que seja sobre relacionamento
E eu novamente quero entender: Minha gente, querida gente, porque tanta crise?
Pelo amor de alguma coisa, por gentileza me informem, me mandem uma carta,
Um telegrama, uma mensagem divina, qualquer coisa serve
Só parem de tricotar confusões heróicas perto da minha cabeça

Tudo gira esquisitamente e a música enche o espaço
Tenho alucinações baratas com pedras preciosas no pescoço
Vou exorcizar mais um verso pra você baby
Respeito coisas que nem eu compreendo
Sou do bem, com olhos atentos bem abertos para o amanhã

A vida corre, escorre... E não é tempo de esperar respostas
Pergunte o que quiser, mas não espere por respostas – Ah – respostas
Vou rir um pouco na outra sala depois te falo
- As respostas – meus caros, bem, as respostas? Deixa pra terça-feira ou sexta
Talvez eu respire fundo não chore mais
Não pense em mais nada, não me magoe com simples adjetivos
Eu que pensava nos verbos mais carismáticos

Nada acabou ainda
Mas essa gente confusa me empobrece os dias
Enche-me os minutos com assuntos antigos
Tudo que passou os meus caros deveriam deixar lá
Lá onde? No passado, por gentileza, por amor de qualquer coisa
Deixe lá onde deveria estar

Eu acho uma bobagem essas coisas
Vamos retomar o papo sobre confusões
Ah sim, as tais confusões... Fiquei confuso!
Confundido. Mas há tanta coisa confusa no planeta
Pelo menos seja você menos confundido por tudo
Pelo amor de alguma coisa não há resposta para todas as infelizes perguntas

O trem não vai ficar te esperando na estação
Nem minha vida para sequer um segundo
Pra te responder algo confuso da confusão confusa
Eu canso, estou cansada, meus caros vá tomar uma água benta
E lave o cabelo com a mesma... Estou cansada, caros!

Onde está a leveza dos dias leves?
Pelo amor de nenhuma coisa, onde está?
Pois é, as respostas, quase nada têm resposta.


Pelo amor de alguma coisa não há resposta para todas as infelizes perguntas
Débora Corn

domingo, 1 de maio de 2011

Prepare seus grandes e magníficos olhos




Sonhei com seus enormes olhos
Com um beijo que responde tudo
Sonha poeta, delira poeta!

Nossa história é mais louca
Que qualquer loucura
Você é doce, você é áspero
Eu sou áspera, eu sou doce

Eu estou
Você está
Eu corro você corre
Vivemos
Andamos de bicicleta
Rimos quando nos vemos
Eu não entendo mais nada
Uma lengalenga de séculos
Meses – séculos – meses
Tudo em mim
Vai
Tudo em você
Vem
Timidamente
Tudo
Vem em você
Vai de mim
O todo
E vem de seus enormes olhos
Lindos
O todo
O que é o todo afinal?
O que é tudo?
Ás vezes, penso que cabe tudo nesse seu
Enorme olhar
Outras
Acho que nada faz sentido

Leveza
Quero ser leve
E te levar
Sempre
Todos os dias
Sem grilos
Sem nada pra nos encher
Vamos descer essa rua com nossas bicicletas?
Prepare seus grandes e magníficos olhos
Pra ver-me com as paisagens mais coloridas


Prepare seus grandes e magníficos olhos
Débora Corn