domingo, 3 de abril de 2011

Como separar o mar da areia - Festival de teatro de Curitiba


Quando se pensa num festival como é o festival de teatro de Curitiba, a gente logo pensa o que vou ver? Como escolher? Como não entrar em uma furada? Como separar o mar da areia... Mas nesse festival o que eu menos tenho pensado é sobre isso. A arte dos encontros em meio a tantos desencontros tem me feito perceber que o que temos ainda de melhor na arte, a troca, tem acontecido, pelo menos comigo e com as pessoas que tenho conhecido. Pessoas focadas na pesquisa teatral, na preocupação com a qualidade, na intenção de aprender com os melhores. Trocar influências com gente de todo canto e assim enriquecer seu trabalho, trocar devaneios nas portas dos teatros na saída, na entrada, na rua, na coxia... Ouvir coisas que você não esperava, conversar por três horas sem sentir os minutos passarem... Se algo faz sentido nesses festivais, esses encontros são o que me movem.
E nesse movimento de encontros ontem assisti: “Homem piano- uma instalação para a memória”, com atuação de Luiz Bertazzo, dramaturgia e direção de Sueli Araujo. Uma das peças que mais me emocionaram na vida (se é que isso é algo pra se levar em conta), a peça é uma poesia para olhos atentos, ela "Eu... Ele... Nós" te convidam a uma entrega, uma partilha de você mesmo e de suas memórias. Na entrada nossos olhos são ganhos por um visual de bloquinhos de papel pendurados na parede com um lápis cada um. Ali anotamos algo que precisamos deslembrar. Depois todos depositam os papéis em um liquidificador, que em seguida é ligado e assim todas essas anotações a serem esquecidas são estilhaçadas. Fragmentando os pequenos papéis, a peça começa já mexendo conosco... E continua movimentando... Continua... Realizei também que ainda há platéia com os olhos prontos pra se encher de água, ainda há muitas peças que nos levam a sonhar, pensar e mudar pelo menos alguma coisinha (que seja) em nós mesmos.

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