quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Diário de dois

Passava perto das árvores altas pensando que devia escrever sobre os gêmeos. Olhei e as árvores eram mais altas do que eu pensava, a vida é linda com essa luz do sol, a esquerda um homem com algo na mão, achei que era um cigarro mais não era, num carro parado no sinaleiro três homens cantavam bem alto uma música, estavam felizes, não era Caetano, o que será que era? Eles estavam tão felizes. O biarticulado passa, a Mercedes passa, a Bmw passa, eu passo. Os gêmeos - não sei se essa história vai ficar boa, ela é boa, mas escrita talvez fique com gosto de chuchu. Pra resumir pra quem não aguenta ler tudo, pra quem tem preguiça de viver ou quem só quer ler coisas rápidas é assim: Eu sempre encontrava esse cara em todo lugar que eu ia. Eu ia ao bar ele estava lá, ia ao teatro o cara lá; um dia pra variar encontrei-o num show, saí, ele ficou lá na frente perto da banda e quando cheguei ao restaurante o cara já estava lá comendo, como? Refleti tomando uma taça de vinho. Outro dia, eu estava num evento e quem eu encontro? Claro, o cara. E descubro que o mistério é que ele não é um é dois. Gêmeo lógico, gêmeo, por isso a rapidez do show para o restaurante, não era um perseguidor, pensei, graças a Deus! Por isso ele está em todos os lugares porque ele dobra. Aí está quem cansa de ler rapidamente já pode parar, acabou aqui ponto final. Não vou contar mais nada muito explosivo, não que tenha sido até agora, mas enfim, nem pra frente vai ter nada revelador. Fim. O começo dos gêmeos foi quando eles nasceram sem dúvida. Mas o começo do cara pra mim foi uns dezoito anos depois. Eu não sabia que eles eram dois, eu achava que era ele: O perseguidor. Um. Só um e era um perseguidor. Agora fico pensando sem solução quantas vezes encontrei o cara e quantas vezes encontrei o irmão. Como vou saber? Não vou. Também pra quê saber disso? Há tantas coisas melhores pra saber na vida: Saber de cor uma música do João Bosco, saber a cor dos olhos do homem amado. A cor dos olhos dos gêmeos é castanha, vi bem porque o perseguidor além de me perseguir ficava me olhando com aqueles olhos dessa cor e ele não sabia de cor a música do João Bosco, talvez o outro soubesse, mas esse que estava lá aquele dia de domingo no parque quando tocou a canção não sabia. Ficou mexendo os lábios como se soubesse, mas não sabia não. Eu sei perceber quando uma pessoa não sabe uma música e finge que sabe, ela fica com olhos alucinados, os olhos ficam mexendo desesperados procurando a letra em algum lugar e o perseguidor tinha esses olhos naquele dia. Nesse domingo o perseguidor ficou me olhando tanto que pedi para uma amiga se nós podíamos ir para outro lugar e rápido. Ela não queria muito, mas quando expliquei a situação concordou. Já no sinaleiro, tinha me acalmado. Cantávamos alto, bem alto, com o vidro aberto, cantávamos bem felizes como os três homens que eu vi perto das árvores, não era Caetano, estávamos tão felizes. Não. Fiquei parada num pequeno choque. O perseguidor estava na esquina a quadro quadras do parque, meu Deus!... Percebam aqui o meu desespero na hora. O cara era um perseguidor e mudava muito rápido de lugar. Como podia? Fiquei refletindo agora, imagine se ele fosse três ou quatro e a cada quatro quadras eu encontrasse outro. Moral da história cante alto onde você quiser e se alguém te persegue demais, perceba se o perseguidor não tem um irmão gêmeo.

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