domingo, 22 de agosto de 2010

Arte é meu trabalho!




Não faz isso, amigo/ Já se sabe que você/ Só procura abrigo/ Mas não deixa ninguém ver/Por que será? (Marcelo Camelo).
Porque as pessoas insistem em achar que arte não é trabalho? Que a gente vive de brisa ou algo do gênero? As pessoas não interpretam que arte é trabalho e afazer intenso. Não deduzem quanto um ator, um cantor, um poeta, qualquer legítimo artista atura para driblar a sociedade que não raciocina arte e não a estima. É inegável, que por outro fluxo cada dia eu encontro sonhadores artistas como eu, graças ao Universo! Ponderei em chutar o recipiente, escrever algo, mas lendo Maiakósvski, um poeta de muita influência nas minhas escritas, descobri que ele já havia escrito o que eu queria dizer...
Grita-se ao poeta:
“Queria te ver numa fábrica!
O que? Versos? Pura bobagem”.
Talvez ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Salve Maiakóvski!
Meu caro amigo me perdoe, por favor/Se eu não lhe faço uma visita/ Mas como agora apareceu um portador/ Mando notícias nessa fita/Aqui na terra tão jogando futebol/Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/Uns dias chove, noutros dias bate sol/Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta/Muita mutreta pra levar a situação/Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça/ E a gente vai tomando e também sem a cachaça/ Ninguém segura esse rojão.Chico Buarque, o soberano, compôs, cantou e canta: Que a coisa tava preta. Caro amigo, a coisa ta preta; na vida, na sociedade, na arte. Se eu fosse petulante poderia pronunciar: Despertem indivíduos! Que indagam: Mas vai pegar folgas do que? Esbugalhando os olhos fadigados de viver. E quando minha réplica joga nas bochechas roxas de frio do dito-cujo: Férias da minha temporada da peça; férias de dar aula; férias de criar dia e noite personagens novos; férias de escrever pontualmente; férias de ensaiar dias e dias e noites; férias de gravações noite a dentro, nos feriados, nos fins de semana, no aniversário da mãe, no casamento do amigo; férias de fazer projetos, pensar projetos, ser projetos... Finalmente, caro, férias ininterruptas, se assim o mundo girar da forma adequada de pessoas como você que sentam a bunda na cadeira o dia todo e não são afortunados com o que fazem e crêem que trabalho só é aquele que faz a pessoa ficar jururu, não é isso? Ah, mas eu entendi sua colocação, peguei mesmo, você me vê sempre radiante com meu trabalho, parece que estou sempre de férias não é mesmo?(Pausa) Nesse instante, o indivíduo gagueja, (pausa) novamente atropela as palavras e não reage à bordoada na cara pálida dele sem bolsa ou qualquer objeto, será que ele refletirá? Desculpe oneroso conhecido, mas,"Só a arte salva a vida!"(Dostoiévski). Se você não possui conhecimento disso e presume que Shakespeare só escreveu, Romeu e Julieta, na gloriosa dramaturgia dramática dele. Recolha-se para sua casa, tome um banho e vá dormir, sem pretensões para o amanhã como você já vem fazendo. Desejo-te felicidade com esse pouco. “Mas muito pra mim é tão pouco/ E pouco é um pouco demais/ Viver tá me deixando louco/ Não sei mais do que sou capaz” (Moska).

Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo...
(O poeta, Baleiro)

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